Quando decidimos vir passar duas semanas ao Alentejo não imaginámos que este seria o sítio da nossa quarentena. Lembro-me que foi na semana anterior que as coisas começaram a ficar sérias e que fazer quarentena voluntária já era uma hipótese.
Decidimos vir para esta nossa casa, não tínhamos nada que nos prendesse aí e aqui sempre podíamos apanhar ar puro e estar em contacto com a natureza!
Na quinta-feira da nossa primeira semana aqui declararam o Estado de Emergência e sorte a nossa que no dia anterior tínhamos feito um piquenique num spot aqui perto e sem ninguém. A vantagem de “viver” aqui é que com ou sem pandemia estes sítios estão quase sempre vazios e a nossa liberdade é muito maior.
Os dias aqui passam mais rápido e são muito mais leves. Há uma tranquilidade que mora automaticamente nos nossos corações. O stress dificilmente entra na rotina.
Há todo um verde para explorar. Caminhamos sem medo e sem horas. Apanhamos espargos e flores do campo. Descascamos favas. Vamos buscar alface à horta. A vizinha deixa-nos ovos caseiros e outros mimos. Compramos pão sem o stress de ter mil pessoas na fila. É outro mundo.
Estas semanas aqui trouxeram-me muitas recordações de infância. Dos momentos com a avó Mila, dos pequenos-almoços que só ela tinha a paciência para preparar. De me ensinar a apanhar espargos e a untar formas para os bolos.
Aqui há tempo para tomar o pequeno-almoço na cama. Almoçamos na varanda e vemos o pôr-do-sol numa paisagem que não tem fim. Não há prédios, não há ruído, não há o stress de ter de usar o elevador. E com isto não digo que não amo o nosso querido T1 de paixão assim como a nossa varanda, mas, há sempre prédios em frente e o tal ruído.
Posto isto, não podia estar mais grata por termos a sorte de estar aqui e viver esta quarentena com outro mood. De todos estes pensamentos nasceu o nosso álbum “Diário de uma quarentena”. Um álbum que já decidi que vai ser físico também.
Um dia a Madalena vai ter esta recordação bonita e perceber o quão bons estes dias foram. Dias que podiam ter sido mais monótonos e sem a nossa golden hour.
Da nossa experiência durante esta quarentena não podemos deixar de ver o lado bom: o privilégio de vermos a Madalena crescer todos os dias juntos. Para isto não há mesmo preço.
Senti inevitavelmente o impacto de tudo isto no meu negócio. Os trabalhos ficaram adiados e felizmente até agora só dois cancelados. Um deles foi difícil de lidar porque são clientes do coração e era a sessão de gravidez do primeiro bebé. Consola-me saber que teremos encontro marcado para conhecer este docinho.
O primeiro contacto com esta realidade não foi fácil, senti-me triste e invadida de incertezas. Precisei de tempo para assimilar tudo e desligar-me. Aos poucos fui-me conectando de novo com a minha missão e foram surgindo ideias para me reinventar.
Peguei em projetos que deixei a meio, estudei, revi o meu site de uma ponta à outra e em breve darei o verdadeiro pulo para fora da minha zona de conforto! Me aguardem!
Sei que todos vivemos realidades diferentes e naturalmente muitos não tiveram uma experiência como esta. Muitos trabalharam horas a fio sem o merecido descanso, não estiveram com as suas famílias nucleares para cuidarem de todos nós e não há uma noite que não agradeça por todas estas pessoas. É fácil criticar e apontar-se o dedo quando se está no conforto do lar. Eu acho que todas as pessoas envolvidas nesta frente de combate sejam elas ministros, profissionais de saúde, operadores de caixa do supermercado e tantos outros deram o melhor que conseguiram neste tempo recorde. Nós só tivemos de ficar em casa e possivelmente fazer reajustes aos gastos.
Numa altura como esta e sempre preocupam-me as pessoas que possam ter as suas necessidades básicas comprometidas, famílias sem dinheiro para comer ou pagar a casa. Isto sim dói na alma. Deixo um incentivo à gratidão. Porque é agradecendo que vemos o tanto que temos e o tão pouco que realmente precisamos.
Obrigada por me acompanharem sempre!