Já partilhei neste blog alguns acontecimentos importantes da minha vida, já desabafei algumas frustrações e comemorei algumas vitórias. Mas hoje falo-vos da minha saída da farmácia. Este fantasma que durante mais de um ano foi um assunto mal resolvido na minha cabeça e no meu coração. Nunca quis falar disto, na verdade preferia sempre fingir que aquele dia, o dia em que decidi despedir-me nunca tinha acontecido. Porque nem tudo corre como planeado e os planos às vezes também não nos servem de nada. Não foi uma saída tranquila, longe disso. Acho que pensei nisto quase todos os dias desde aquele dia, tentei arranjar culpados e justificações, fervia dentro de mim sempre que me recordava daquele episódio. E na vida nada se esquece ou se evapora se não dermos espaço e atenção àquilo que nos incomoda e nos impede de seguir em frente verdadeiramente. Aquilo que nos aperta o coração sabem? Aquelas emoções que vivemos na nossa solidão e que insistimos em não partilhar à espera que um dia aconteça um milagre e aquela memória desapareça.
Mas, como podia eu querer que algo tão marcante na minha vida fosse simplesmente apagado da minha história? A história que me levou onde estou hoje. O passo que mudou tão profundamente a minha vida.
Senti vontade de partilhar isto contigo porque finalmente percebi que isto é tão parte do que hoje sou. Muito diferente daquela miúda que achava que tinha de agradar a todos e que esperava sempre pela aprovação dos outros. NUNCA VAMOS AGRADAR A TODOS. Ir por este caminho é simplesmente um anular da nossa essência por completo.
Traz o teu copo de vinho e vamos conversar! Se ainda não deste este passo ou deste e sentes isto, espero no fim ter-te inspirado e motivado a dares o passo que precisas dar.
Back to 2016. Mais precisamente Setembro de 2016 quando regressámos da nossa viagem à Indonésia. Antes desta viagem e já em modo frustrada eu já tinha um plano mais ou menos traçado na minha cabeça e já tinha conversado com o João sobre ele. Se tudo corresse bem, contava sair em Abril de 2017. E durante meses achei que isto era um facto decidido e arrumado. Só que não foi nada disto que aconteceu. Aquela viagem tinha despertado alguma coisa em mim, foram 3 semanas longe de tudo e a absorver uma cultura totalmente diferente da minha. Eu tinha regressado diferente, mas achei que era só aquela sensação amarga de quem volta das melhores férias de sempre para aquele trabalho que já não tinha mesmo nada a ver comigo. Só que não eram os outros que estavam mal, ERA EU. A culpa não era de quem me rodeava, simplesmente era eu que já não pertencia ali e cada dia me custava mais que o anterior. Independentemente do que eu achava daquele sítio, quem estava mal era eu.
Tudo culminou quando as pessoas com quem eu tinha mais afinidade começaram a sair. Ou se não iam sair eu sabia que iam estar uns tempos fora e foi quando entrei em pânico e pensei ‘Vou ficar sozinha aqui.’ Óbvio que não ia estar sozinha no verdadeiro sentido, mas sozinha sem aquele apoio que eu acreditava que me fazia aguentar só mais uns meses. Muito se especulou sobre a minha saída, se havia sido quase que um plano em que decidimos sair todas juntas. Mas não foi. Tive a sorte ou o azar de naquela maré de saídas ser a última a sair. Na altura e naquele mix de emoções intensas que foram aqueles 3 dias (entre o meu despedimento e o meu último dia lá) senti raiva, culpa e senti-me perdida no meio da minha decisão repentina. Isto porque eu me despedi no dia seguinte à segunda pessoa que se despediu. Lembro-me que era um sábado e eu estava a trabalhar e que nesse dia foi quando tive o sentimento que ficaria sozinha. Perto da hora de almoço (e mais uma vez dependendo de uma aprovação, que neste caso foi da minha mãe que felizmente é uma pessoa que me apoia) enviei uma mensagem à minha mãe que dizia ‘Mãe achas que me despeça hoje? Nunca tive tanta vontade.’ e ela respondeu ‘Se o teu coração sente isso vai em frente.’ Vi ali a minha luz verde, como se desse uma desculpa a mim prórpria que a culpa não tinha sido minha ter tomado assim quase que do nada aquela decisão. Quando eu sabia lá no meu íntimo que eu estava pronta para dar aquele passo mas tinha sempre MEDO. Aquela luz verde que foi um boost de força para mim naquele dia não me fez perder mais tempo. Entrei pelo gabinete e disse ‘Vou-me embora’. Se as coisas podiam ter sido diferentes? E que era obviamente um choque sairmos assim 3 pessoas. Talvez podesse ter sido diferente, mas tudo nesta vida pode ser diferente. Eu acredito que as coisas têm de ser como são e que era necessário que acontecesse assim. Mas não percebi logo isto. Eu não era e não sou melhor nem pior que as pessoas que trabalhavam comigo, eu simplesmente estava desconectada de todo aquele ambiente, numa etapa da minha vida que já não era compatível com nada naquilo e me fazia sentir sufocada. Inicialmente ainda senti culpa, porque a culpa me foi colocada (e isto aconteceu porque eu deixei) de alguma forma, porque acharam que eu devia ter contado antes. Mas não havia antes, porque eu tinha tomado a decisão naquele sábado. E mesmo que houvesse não havia nada para justificar a não ser que sintamos que queremos fazê-lo isto em relação às pessoas que trabalham com vocês e quanto às vossas entidades superiores óbvio que sempre cumprido o que diz a lei ou no meu caso chegando a um acordo que por acaso nem fui eu que propus mas que foi o melhor depois da tensão que estava instalada. Durante muito tempo senti este mix de culpa e raiva. Sou uma pessoa muito emocional e isto foram emoções não planeadas a mais. Senti saudades daqueles clientes com quem ao longo daqueles três anos estabeleci uma ligação, perguntei-me muitas vezes o que eles poderiam ter ficado a pensar de mim. Senti saudades daquela ligação. Mas como lidar com pessoas faz parte da minha missão nesta vida, não perdi esta preciosidade e agora lido ainda mais intimamente com pessoas, com as suas emoções e as suas histórias que me inspiram todos os dias.
Algumas dessas pessoas ainda cruzaram o meu caminho e quiseram saber o que era agora feito de mim e confesso que por um lado me acalmou a alma ver na expressão delas que estava tudo bem assim e ficavam felizes por mim. Desde que saí da farmácia acho que só voltei a entrar duas vezes em farmácias, deixava-me ansiosa pensar nisso e era invadida por uma tamanha nostalgia e tristeza.
Levou o seu tempo. O tempo que foi preciso.
E agora que tudo isto ficou resolvido comigo mesma, que não há perdões nem culpas a atribuir de ambos os lados, sinto que alcancei uma liberdade e paz de espírito que não fazia ideia ser possível.
Passou. Foi como tinha de ser. E no fim o importante é todos sermos felizes nos nossos trabalhos e vidas. O que está bem para mim não está bem para outras pessoas e vice-versa e isto não faz de ninguém melhor, apenas reforça que somos todos diferentes e que devemos respeitar e saber lidar com isso mesmo. Em momentos menos bons ou planeados também.
Acho que nunca tinha escrito um post tão longo e nunca tinha partilhado algo tão meu.
Partilha comigo a tua história ou partilha esta minha história com alguém que conheças que possa estar numa situação idêntica a esta.
Se só tenho esta vida o meu objectivo é apenas ser feliz. Se não agradar a todos os que me rodeiam paciência. O capítulo seguinte foi a ‘aceitação’ da família. Volto um dia destes com este tema, que tem muito que se lhe diga!
Obrigada por estares desse lado e teres partilhado este bocadinho comigo.
Much love,